quinta-feira, 20 de abril de 2017

A Páscoa Cristã

A PÁSCOA CRISTÃ[1]
Rafael Antonio Paixão Soares[2]
Para nossa melhor compreensão do mistério pascal de Cristo e seu memorial, necessitamos voltar nosso olhar para a história da salvação do Antigo Testamento. No centro desta história está o evento fundador que é a passagem do Mar Vermelho. Este evento foi sendo gradualmente preparado por toda a atuação de Moisés e finalmente anunciado profeticamente na última Ceia do Egito. Justamente por seu caráter irrepetível a Ceia remete ao futuro imediato da Libertação do Egito, da qual é prefiguração e, ao mesmo tempo, aponta para o futuro longínquo das gerações vindouras até o fim dos tempos. Desse modo, aqueles que ceavam já viviam a travessia do mar. Contudo, esta ceia tinha também uma dimensão de futuro longínquo, expressa pela ordem de iteração do memorial (zikkaron): “Esse dia será para vocês um memorial, pois nele celebrarão uma festa de Javé. Vocês o celebrarão como um rito permanente, de geração em geração.” (Ex 12,14). Desse modo, o evento fundador da passagem do Mar transportará as gerações futuras a suas raízes nos grandes feitos de Deus.
    A última Ceia de Jesus é localizada pelos Evangelhos sinóticos e se insere numa dinâmica análoga. Assim, o Evento fundador do Novo Testamento, isto é, a passagem de Jesus pelo Mar da Morte e a libertação humana deste poder teve também seu anúncio profético no gesto de Jesus de partir o pão e distribuir o cálice com as palavras que os identificavam com o seu Corpo e do seu Sangue que no dia posterior seriam entregues em prol da salvação humana. Deste modo, como a Ceia judaica remete a um futuro imediato e um futuro longínquo, a Ceia de Cristo remete ao futuro imediato da sua morte e ressurreição e pela interação das palavras “Fazei isto em meu memorial”, Jesus aponta para o futuro longínquo, das gerações vindouras que, pelo sinal do pão e do vinho haveriam participar do mesmo evento fundador.

 Pelo rito instituído na ceia pascal e pela nossa fé somos transportados ao Calvário e ao túmulo vazio do Ressuscitado.  Neste sentido, a Celebração Pascal não é uma mera representação ou uma recordação de um fato passado, mas é nossa participação deste evento fundante de nossa Fé, para o qual somos transportados e tomamos parte de seus frutos, isto é nossa Redenção.


[1] Cf. TABORDA, F. O Memorial da Páscoa do Senhor à luz da Páscoa judaica in: TABORDA, F. O Memorial da Páscoa do Senhor.  2ed.  São Paulo: Loyola,2009
[2]Seminarista da Arquidiocese de Botucatu, realizando Missão Pastoral na Paróquia Santíssimo Sacramento, Ribeirão das Neves-MG

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