(Reflexão Final da Procissão do Senhor Morto por Pe. Rogério Zenateli)
No silêncio do sepulcro do Senhor e do seu corpo dilacerado
pelo sofrimento que fora contemplado por nós nesta procissão, grita o apelo de
uma das palavras de Jesus na cruz: “Tenho sede”.
No seu corpo inerte entregue à sua Mãe faz ressoar o choro compulsivo
de tantas mães que tem o corpo de seus filhos em seus braços mortos pela
injustiça social. O silêncio da inconformidade grita a sede de justiça.
No sepulcro silencia a dor e o sofrimento que Jesus passara
em seu martírio. Testemunha da verdade que anunciara sem medo da morte, o
Cristo nos ensina a não abandonar nossas convicções e não se deixa corromper
por falsos valores. Não se entrega aos corruptos, mas, luta por uma saciedade
de renda que, seja melhor distribuída ao acúmulo de riquezas que desviam a
humanidade do bem que deve produzir e compartilhar.
Contemplamos um corpo inerte, chagado e ferido, por
acreditar e ser fiel ao projeto de um Pai misericordioso que deseja salvar a
todos não pela condenação mas, pelo perdão.
Na morte de Cristo, contemplamos o mistério da ressurreição.
É só com o sentido da ressurreição que podemos compreender a entrega de Cristo
para a morte. Morte a toda espécie de maldade que torna indigna a vida da
humanidade. Morte à toda corrupção e fraudes contra o homem. Morte à toda
perseguição àqueles que procuram a verdade contra os sistemas de empobrecimento
e miséria humana.
Ressurreição é uma vida nova, continuada na graça de Deus e
reverenciada na construção do seu Reino definitivo na terra, meta última de toda
a Igreja. Como Igreja contemplamos a morte de Cristo para comemorarmos na
ressurreição um novo céu e uma nova terra, um novo homem e uma nova sociedade
livres de todos os males.
O sentido profundo de nós estarmos aqui hoje é a nossa fé e
nosso desejo de ressurreição, é a nossa sede de vida nova; de uma sociedade
mais justa e fraterna; de uma proximidade com o Deus que é solidário com todos
nós sofredores das dores desse mundo, na maioria das vezes no silêncio.
Que possamos a partir da experiência da ressurreição, ter
voz para silenciar a maldade que, atualmente fere nossa dignidade humana e
convívio social.
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