A
PÁSCOA CRISTÃ[1]
Rafael
Antonio Paixão Soares[2]
Para
nossa melhor compreensão do mistério pascal de Cristo e seu memorial,
necessitamos voltar nosso olhar para a história da salvação do Antigo
Testamento. No centro desta história está o evento fundador que é a passagem do
Mar Vermelho. Este evento foi sendo gradualmente preparado por toda a atuação
de Moisés e finalmente anunciado profeticamente na última Ceia do Egito.
Justamente por seu caráter irrepetível a Ceia remete ao futuro imediato da
Libertação do Egito, da qual é prefiguração e, ao mesmo tempo, aponta para o
futuro longínquo das gerações vindouras até o fim dos tempos. Desse modo,
aqueles que ceavam já viviam a travessia do mar. Contudo, esta ceia tinha
também uma dimensão de futuro longínquo, expressa pela ordem de iteração do
memorial (zikkaron): “Esse dia será
para vocês um memorial, pois nele celebrarão uma festa de Javé. Vocês o
celebrarão como um rito permanente, de geração em geração.” (Ex 12,14). Desse
modo, o evento fundador da passagem do Mar transportará as gerações futuras a
suas raízes nos grandes feitos de Deus.
A última Ceia de Jesus é localizada pelos
Evangelhos sinóticos e se insere numa dinâmica análoga. Assim, o Evento
fundador do Novo Testamento, isto é, a passagem de Jesus pelo Mar da Morte e a
libertação humana deste poder teve também seu anúncio profético no gesto de
Jesus de partir o pão e distribuir o cálice com as palavras que os
identificavam com o seu Corpo e do seu Sangue que no dia posterior seriam
entregues em prol da salvação humana. Deste modo, como a Ceia judaica remete a
um futuro imediato e um futuro longínquo, a Ceia de Cristo remete ao futuro
imediato da sua morte e ressurreição e pela interação das palavras “Fazei isto
em meu memorial”, Jesus aponta para o futuro longínquo, das gerações vindouras
que, pelo sinal do pão e do vinho haveriam participar do mesmo evento fundador.
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